Indústria brasileira de cosméticos entra na era da nanotecnologia
Categoria: Novas Tecnologias
O mercado mundial de Nanotecnologia deve atingir a marca de US$ 125 bilhões nos próximos cinco anos. Os segmentos que mais vão se beneficiar do desenvolvimento tecnológico nesse campo são os da indústria eletrônica, energia, biomedicina, cosméticos, defesa, agricultura e automotivo. Os dados são do iGate Research, que analisou o perfil e os investimentos de 27 empresas líderes em seus segmentos e que desenvolvem produtos a partir das pesquisas com nanocomponentes.
No que diz respeito aos maiores investimentos na área, de acordo com o estudo, eles são liderados pela indústria de eletrônica, energia e biomedicina, que dominam cerca de 70% do mercado. As fabricantes de cosméticos, no entanto, foram as primeiras entusiastas e passaram a pesquisar o uso de nanopartículas ainda na década de 1990, apostando no maior poder de absorção dos produtos pelas células.
Proximidade com universidades e centros de pesquisa
Para se aprofundar no conhecimento sobre nanopartículas, a indústria cosmética buscou apoio nos laboratórios de universidades e centros de pesquisa nacionais e internacionais. No Brasil, foi criado em 2013 a Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O objetivo é investir e incentivar pesquisas em diversos campos, entre eles, a interação das partículas com as células, que se aplica ao desenvolvimento de fármacos e produtos de higiene e beleza.
Em Minas Gerais, a empresa de cosméticos Provanza e o Instituto de Biotecnologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), passaram a trabalhar em conjunto para o desenvolvimento de pesquisas com nanopartículas. O objetivo é entender os mecanismos que possibilitam o transporte dos princípios ativos diretamente até as células. Essa é a base da chamada Cosmética Ativa, onde o produto aplicado sobre a pele ou cabelos é liberado gradualmente e diretamente sobre as células, potencializando o efeito.
Um dos resultados desse trabalho conjunto chegará ao mercado no verão de 2020. Trata-se da linha Vem Pro Sol da Provanza, indicada para uso após exposição excessiva aos raios solares. Depois de aplicadas na pele, as nanopartículas serão direcionadas para as células que precisam ser hidratadas. Os princípios ativos serão liberados gradualmente, na medida em que se aprofundarem na estrutura celular da epiderme.
A pesquisa contou com a participação do estudante Lucas Ian Veloso Correia, do curso de Biotecnologia da UFU. Este estudo faz parte do projeto do Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Teranóstica (INCT Teranano) e teve a orientação do professor Luiz Ricardo Goulart Filho. Foram analisadas tanto as partículas presentes nos princípios ativos da marca quanto dos materiais utilizados para conduzir esses elementos até a célula, chamadas de lipossomas. Foram cerca de seis meses de desenvolvimento, entre os estudos iniciais, testes e fabricação em série. Os produtos chegam às prateleiras a partir de janeiro.
Entre as vantagens das nanopartículas, Lucas Ian destaca a capacidade de penetração na pele, que é bem maior que nas formulações tradicionais. Outro ganho é a redução dos custos de fabricação, uma vez que a quantidade de princípios ativos pode ser reduzida, com a manutenção de seus efeitos.
Pós graduação
Outro resultado do trabalho conjunto entre a Provanza e a Universidade Federal de Uberlândia foi a mensuração exata do poder antioxidante do blend de chá gelado utilizado nas lojas da marca. O tema fez parte da dissertação de mestrado do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Engenharia Química, concluída em agosto/2019. Entre as conclusões, está a descoberta de que duas xícaras diárias de chá, dentro de uma formulação específica, correspondem à quantidade de antioxidantes necessários ao corpo, para combater os radicais livres que levam ao envelhecimento da pele.
Nesse momento, a Provanza e a UFU estão finalizando um acordo formal de parceria, para levar os testes com nanopartículas para outras linhas de produto, tanto da marca quanto do grupo Lima & Pergher, dono de outras empresas que desenvolvem produtos químicos. “Nossa empresa nasceu quando a gente ainda estava na universidade. A Provanza é resultado da parceria com uma ex-professora e pesquisadora da UFU. Essa aproximação para a inovação e o desenvolvimento tecnológico são muito importantes para nossa marca”, finaliza Fábio Pergher, um dos fundadores da Provanza.
Fonte e Imagem: Exame, (02/12/2019)