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Cosmético biomimético demanda estudo e traz oportunidade

Categoria: Mercado Cosmético


Cosméticos biomiméticos são grande oportunidade para o desenvolvimento do setor de Higiene & Beleza, no Brasil e no mundo. Estudos mostram essa relevância, segundo destaca Linda Cristina, engenheira química e pesquisadora científica com atuação de quase 30 anos no mercado.

A biomimética, a especialista explica, é um campo emergente, “um novo ramo da ciência e necessita de muito conhecimento e estudo, apesar de ser apontada como tendência número 1 nos negócios em 2017, pela Revista Fortune, e como uma das cinco maiores tendências tecnológicas mundiais, recentemente pela Revista Forbes”.

“No biomimetismo, a compreensão do fenômeno natural é o foco principal e refere-se ao uso do conhecimento adquirido da natureza para gerar soluções com funcionalidade, estética e sustentabilidade”, afirma Linda. “É muito importante entender que (essa disciplina) é baseada não no que se pode extrair da natureza, mas sobre o que é possível aprender com ela”, completa.

Linda explica que são considerados cosméticos biomiméticos os produtos que contêm ingredientes biologicamente idênticos aos componentes da pele ou perfeitamente compatíveis com ela.

“Cosméticos biomiméticos devem ter qualidade, excelência e verdade, acima de tudo. Desde o início, a sua concepção tem que ser pensada como uma implementação tecnológica criativa e uma reinvenção inspirada na natureza”, diz a especialista.

A pesquisa biomimética exige muito conhecimento e treinamento, como destaca Linda. “Isso porque envolve muitos processos e inclui diversos níveis de abstração e modificação. É algo extremamente interdisciplinar, em que o biomimeticista reúne especialistas de várias áreas, como biólogos, químicos, físicos e até engenheiros para cooperarem nos projetos. Não é tarefa fácil, olhar para a natureza e aprender como seus modelos trouxeram soluções e adaptar aos novos produtos cosméticos formulados.”

Inspiração  
Como exemplos para estimular desenvolvimentos nesse campo, Linda cita a planta de lótus, o pigmento não tóxico inspirado nas penas de pássaros e o buriti.

Ela conta que a flor de lótus (Nelumbo nucifera) – por sua capacidade de se manter impecavelmente limpa apesar do ambiente lamacento em que vive e conhecida por possuir mecanismos próprios de limpeza e hidrofobicidade – inspirou o desenvolvimento de maquiagens ou emulsões já que as substâncias hidrofóbicas conseguem atingir camadas mais profundas por sua semelhança química com a maioria dos componentes da pele, também hidrofóbicos.

Linda conta também que cientistas da Universidade de Akron, de Ohio, nos Estados Unidos, desenvolveram um novo tipo de pigmento não tóxico inspirado na biomimética e nas cores vibrantes das penas de pássaros.

“A equipe passou alguns anos examinando como a natureza o faz, decidiu retirar o revestimento de queratina além de encapsular as partículas de melanina com sílica. O resultado apresentado é uma roseta de pós de cores vivas – azul, verde, vermelho e laranja – todos feitos com os mesmos materiais simples, melanina e sílica”, diz.

Já o buriti (Mauritia flexuosa), ressalta Linda, é uma palmeira da família Palmae, encontrada nas regiões alagadas e úmidas das Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. “Em pesquisa científica, se comprovou suas atividades antievelhecimento, anti-poluentes, regeneradora e hidratante, baseando-se na observação do buriti”, conta. “Por ser uma árvore de longevidade e resistência, consegue ótima fixação em terreno brejoso e possui íntima relação com a água, seus constituintes apresentam grande afinidade aos componentes da pele e proporcionam efeito benéfico no processo de hidratação, formação, deposição das fibras colágenas e reparação tecidual por se ligarem a radicais livres, protegendo, assim, a membrana celular da peroxidação”, acrescenta.

A especialista complementa ainda que outros ingredientes graxos biomiméticos foram avaliados e comprovados por sua capacidade de penetrar facilmente na pele, ajudando na emoliência e no equilíbrio e proteção da pele, além de proporcionar hidratação prolongada, como os óleos de macaúba, açaí, cártamo, girassol e borragem.

Custo-benefício  
A cosmetóloga e articulista da Revista H&C Sonia Corazza explica que com o atual conhecimento em relação à pele, sabe-se mais de sua estrutura, funções, mecanismos e necessidades e, com isso, a indústria de insumos também se sofistica. Tornando-se capaz de fornecer ativos cada vez mais seletivos e adequados para trabalhar em sinergia com os reais componentes das diversas estruturas cutâneas.
“Como são ingredientes altamente tecnológicos, tais frações ativas podem ter um custo mais elevado, porém a sua concentração de uso é bastante pequena e, dessa maneira, se viabiliza o uso em fórmulas cosméticas”, afirma.

Sonia alerta que as marcas têm uma oportunidade nas mãos no sentido de intensificarem a divulgação desse segmento e mostrarem os resultados possíveis para as pessoas. “Educar o consumidor é fundamental para que ele saiba entender o benefício de tais formulações e isso começa por fazê-lo entender a tipologia e condição de sua pele. Assim é fácil mostrar as necessidades reais individuais e quanto as fórmulas que imitam as ferramentas endógenas de autoproteção e reparação podem ser eficazes”, conclui.

Defesa imunológica  
Exemplo de uso do biomimetismo no mercado cosmético vem da Under Skin, por meio do seu produto U.SK Elixir Platinum, lançado recentemente. Esse produto, segundo a fabricante, repõe proteínas, restaura e reforça a barreira cutânea, além de estimular as células imunológicas da pele.

De acordo com a dermatologista Claudia Marçal, consultoria científica da marca e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o peptídeo biomimético derivado do hormônio da juventude timopoietina é responsável por esse estímulo da defesa imunológica em especial as células de Langerhans.

“Com o passar dos anos, a produção deste hormônio fica comprometida e sua reposição promove um reforço na imunidade da pele e contribui para a regeneração cutânea”, explica a médica.

Combate aos sinais  
A Hinode também ilustra essa oportunidade do mercado, por meio de um lançamento do segundo semestre de 2017, o Routine Age Reverse. Com nota máxima nos mais rigorosos testes de qualidade, segundo a fabricante, a fórmula desse produto contém progeline, um peptídeo biomimético que contribui na melhora da aparência das rugas.

A marca explica que os peptídeos são formados pela união de uma longa cadeia de aminoácidos, indispensáveis para o bom funcionamento do organismo, e quando são biomiméticos, eles atuam rapidamente na pele, auxiliando na redução de rugas e linhas de expressão.
Caviar nos cabelos – Humberto Michel, engenheiro químico especializado em cosmetologia, da Bio Genetyc, concorda que há como crescer nesse nicho de mercado. Na opinião dele, a característica biomimética do cosmético ainda não é amplamente explorada.

“Isso pelo fato de que não é nada fácil projetar este tipo de produto”, diz. Além disso, o executivo indica que há uma ampla gama de oportunidades para usar essa ciência no setor. “A princípio todos os cosméticos poderiam (usar o biomimetismo), depende mais da criatividade e tecnologia disponível para tanto”, afirma.

O especialista afirma que querer mimetizar alguma coisa não é o suficiente, pois é necessário desenvolver uma tecnologia específica e que realmente funcione tal qual funciona na natureza. “Quando se consegue é ótimo, pois a natureza levou milhões de anos para aperfeiçoar aquela técnica, material ou função e provavelmente é a melhor opção lógica para a resolução do problema e é por isso que tentamos a medida do possível mimetizar a natureza”, diz.

Um destaque da empresa nesse mercado é o Power Caviar. “Um produto que mimetizamos as ovas do peixe Esturjão, o próprio caviar”, explica Humberto Michel. “Os princípios ativos do extrato de caviar mais uma blend de superativos reestruturam a fibra capilar quimicamente danificados. Como os princípios ativos estão encapsulados dentro de uma cápsula igual as ovas dos peixes, eles são melhor preservados até o momento do uso, potencializando os seus efeitos”, acrescenta.

Ação eficaz  
Em cosmetologia, estudos têm mostrado que a utilização de fórmulas biomiméticas, como em cremes faciais, por exemplo, minimiza a irritação e aumenta efetivamente a hidratação da pele. A informação é de Gisele Caramori, tecnóloga em estética e técnica da Buona Vita.

Segundo ela, dois exemplos clássicos de ativos biomiméticos são alguns peptídeos e os Fatores de Crescimento. “Os peptídeos e os Fatores de Crescimentos, hoje em dia, são os grandes diferenciais das formulações, pois além de agirem sinergicamente nas fórmulas, atuam em receptores específicos. Quando biomiméticos, simulam as proteínas naturais e atuam rapidamente na pele”, diz.

A Buona Vita, de acordo com a profissional, apresenta produtos que são destaques nesse segmento. Um deles é Body Lipo, potente óleo redutor de medidas, com combinação de ativos lipolíticos inovadores que auxiliam no tratamento da celulite, no estímulo da circulação e no combate à gordura localizada.

Outro é Capitão Jack, gel enriquecido com ativos lipolíticos que exercem efeito redutor de gordura abdominal, formulação com uma cafeína biovetorizada com silícios orgânicos e que reduz e tem ação lipolítica. Já o Vita D Cream Supreme é um creme potencializado com exclusiva tecnologia Vitamina D Like que atua em sinergia a um pool de ativos, entre eles o Revinage (vitamina A Like), para tratamento completo das peles maduras, secas e desvitalizadas.

Também para a pele, o Gel Creme Skin Factor, item de manutenção diária, conta com quatro Fatores de Crescimento em sua formulação, com a finalidade melhorar a aparência das cicatrizes e de rápida regeneração tecidual. É aplicável também em protocolos de rejuvenescimento, estrias, cicatrizes e sequelas, aumentando os níveis de colágeno e elastina e a indução da formação de novos vasos capilares sanguíneos (indução de angiogênese) da pele, devolvendo vitalidade e energia.

Mercado atrativo 
A especialista em cosmético biomimético Linda Cristina ressalta que o mercado biomimético “se encontra junto ao das inovações bioinspiradas”, ou seja, um nicho atraente que tem um enorme potencial para a economia global; porém, “com muito a fazer para atingir a economia em larga escala”. “Para se ter uma ideia, o gráfico abaixo representa a projeção de quanto a inovação bioinspirada contribuirá para o PIB americano em 2030. As maiores contribuições da indústria são: construção civil, incluindo o setor de cimento e concreto; fabricação de produtos químicos, onde entram os ingredientes cosméticos biomiméticos; e os setores de geração, distribuição e armazenamento de energia.”

Portal Revista H&C, 22/06/2018.

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